300: o outro lado da história
Capítulo Onze
Mais dias são sucumbidos sob o sol e sonorizados pelas batalhas campais entre os exércitos de Leônidas e Xerxes. Muitos feridos entre os espartanos e muitos mortos entre os persas, mas a luta tinha de continuar.
Naquela manhã, Leônidas conversava com Artemis e outros graduados, quando Dilios aproxima-se acompanhado por outros dois soldados.
- Recebemos mensageiros, majestade!
Os olhos pesados e atentos de Leônidas fixam-se sobre o rosto de um dos mensageiros e neste momento sente seu coração gelar. Em sua mente, imagens de sua amada Gorgo e de seu filho surgem nitidamente.
- O que nos traz?
- A nossa Rainha Gorgo enviou-nos para comunicar que seu irmão Lassir foi trazido de volta ao palácio, meu rei!
- Como? – Artemis exalta-se e sobressalta-se.
- Ele...ele foi trazido por uma mulher persa e por um homem.
- Que homem? – rosna Leônidas.
- Um homem de nome Ephialtes, meu rei.
O rei e o Capitão entreolham-se furiosos.
- O corcunda que veio pedir para entrar em nosso exército. Você tem mais detalhes sobre Lassir? Você o viu?
- Não, meu rei. Apenas recebemos esta ordem da Rainha. Devo levar alguma resposta?
- Sim. Diga a ela que enviarei um representante para lidar com o assunto.
Naquela mesma noite....
- Podemos conversar, Leônidas?
- O que o aflige, meu caro Artemis?
O Capitão aproxima-se do rei e mostra-se consternado.
- Tenho sofrido muito desde a morte de meu filho. Sei que ele morreu como soldado lutador, mas era meu filho.
- Quer aposentar-se, amigo?
O Capitão acha graça e ri.
- Morrerei em campo de batalha, Leônidas. Mas tenho pensado muitos nos últimos dias e gostaria de ter mais filhos.
- Ah, meu soldado! Você é forte e viril! Depois de nossa vitória, muitas jovens desejarão ser desposadas por você.
O homem mais velho arqueia as sobrancelhas e mantém o sorriso.
- Eu desejava alguém em específico e agora tenho certeza de que é isso o que quero.
- Eu lhe desejo boa sorte, então! – Leônidas sorri. Percebe que há algo mais a ser dito pelo companheiro de guerra. – Abra seu coração.
Inspirando profundamente e enchendo-se de coragem, o Capitão fala:
- Peço a sua permissão para ser o seu representante no assunto de seu irmão...ou de sua irmã. Quero retornar ao palácio e buscar detalhes sobre a situação. Além disso, gostaria de receber a sua permissão e a sua benção para ter Lassir como minha futura esposa. Eu sempre a desejei e nunca tive coragem de declarar-me por pensar de se tratar de um jovem. Mas agora que sei que é uma mulher...
Leônidas ergue o queixo e encara o Capitão.
- Eu me sentiria honrado se você fosse meu cunhado. Ocorre que ainda não sabemos o que realmente houve com Lassir dentro do palácio do maldito dourado. Dilios trouxe a informação de que Lassir não sofreu violação, mas até que ponto isso é verdade?
- Saberei lidar com isso, majestade. Peço que confie em mim.
- Eu confio a minha vida em suas mãos, Artemis. Apenas alerto que sua missão não será nada fácil. Lassir é uma pessoa impetuosa e independente. Imagino que agora com um bebê no ventre, deva ter tornado-se insuportável.
- Saberei lidar com isso.
Dias depois, quando Artemis chega ao palácio, é recebido pela imponente Rainha Gorgo. Abraçam-se e conversam por alguns minutos ali mesmo no pátio do lugar. Depois, ela o conduz para ser alimentado, banhado e descansar antes de uma reunião na qual seria posto a par da situação.
Naquela noite, Artemis encontra-se com a rainha para uma taça de vinho. Falam de assuntos diversos no campo da guerra e da política, mas o foco seria o assunto referente a Lassir. Isso preocupava a soberana.
- Como ela está? – pergunta Artemis.
- Chamá-lo de “ela” é tão incomum. Eu aprendi a ver Lassir como homem...
- Um homem lindo, diga-se de passagem. – o Capitão sorri. – Eu adoraria vê-la e saber detalhes do que houve.
Gorgo espreme os lábios e arqueia as sobrancelhas.
- Lassir foi levado daqui, em uma invasão relâmpago. Os raptores conheciam detalhes da construção do prédio e surgiram em uma operação rápida. Lutamos, mas fomos submetidos. Vieram buscar Lassir especificamente.
- O que queriam?
- Queriam usar Lassir como moeda de troca, porém Leônidas recusou-se a negociar. Lassir entenderia a recusa do irmão.
- Xerxes sabia do segredo de Lassir...
- Alguém nos traiu e expôs o segredo. Eu tenho fortes desconfianças do corcunda, entretanto, ele salvou Lassir e o devolveu a nós.
Artemis não havia simpatizado com o corcunda desde que ele pedira audiência com o rei. Era petulante e arrogante, acreditando que poderia ser comparado aos soldados das tropas. Em seguida à recusa de Leônidas, havia acontecido o rapto e tudo apontava para o corcunda como mentor do crime.
- Xerxes desposou Lassir e segundo o corcunda, fez chantagens ameaçando cortar o ventre e retirar o bebê, além de ameaçar a morte da criança ao nascimento. Então, Lassir submeteu-se até conseguir fugir com a ajuda do corcunda e de uma serva pessoal.
- Lassir está mesmo esperando um filho?
Gorgo sorri. Queria esconder seu ciúme pela beleza acentuada de Lassir.
- Ele está lindo.
- Posso vê-la?