300: o outro lado da história
Capítulo Dois
A escuridão em torno do palácio amedrontava os olhos do corcunda. Tudo silencioso e protegido pela névoa daquela madrugada. Mas ele ainda se lembrava dos corredores e colunas. Nada havia mudado.
Todos os espiões sabiam que o local estava ocupado por homens velhos, mulheres e crianças. Apenas poucos homens adultos faziam a segurança, uma vez que os mais fortes estavam em campo de batalha. Mesmo assim, o confronto não aconteceria frente a frente. Tudo deveria ser rasteiro e réptil.
Uma entrada lateral seria utilizada para a invasão. O corcunda conhecia bem a construção, porque costumava invadir ali quando era menino, para brincar com algumas crianças sem o consentimento dos pais. Ainda não conheciam o preconceito.
Um sorriso involuntário surge em sua boca deformada. Depois de muitos anos, seus olhos iriam deitar-se sobre Lassir e admirar aquela criatura singular. Quantas saudades! Em seu peito, ele sabia que não estava fazendo favores ao Rei Xerxes e que o rapto seria apenas para proveito próprio. Mas e quando o rei dourado descobrisse?
Lá dentro, o silêncio começava a imperar, uma vez que as pessoas já se preparavam para o descanso do final do dia. Uma reunião entre a Rainha e os conselheiros havia terminado e os corpos precisavam de descanso.
Não dá tempo, porque o pequeno e poderoso grupo do exército dos Imortais invade as dependências do palácio e toma a todos de assalto. Entretanto, os espartanos não iriam ser derrotados sem uma boa peleja. Eram valentes demais para isso.
As mulheres eram guerreiras conhecidas e hábeis; os poucos soldados sabiam que deveriam defender a residência real com a força de seus braços e Lassir não seria a exceção. Usando habilidades desconhecidas de Ephialtes, o jovem luta usando agilidade em vez de força.
Mas os soldados Imortais também eram valentes e exímios em sua arte. Em pouco tempo, sem retirar vidas, como ordenado, conseguem render os moradores do palácio.
Era manhã, quando o grupo de soldados apresenta-se diante do gigante Xerxes e atira aos pés do soberano, um homem com as mãos amarradas às costas.
- Eu fico feliz quando sou presenteado. – o soberano sorri.
Os olhos claros e furiosos de Lassir fixam-se no rosto enfeitado do soberano. Caso o embate fosse de peito aberto, Xerxes não teria vantagens sobre o espartano.
- Quero ver essa criança por inteiro. Tirem as roupas do corpo dela!
Em questão de segundos, mesmo lutando, Lassir é totalmente despido e exposto aos olhos curiosos e encantados de todo o séquito de Xerxes. O som de admiração é uníssono.
Incrédulo e imediatamente apaixonado, o rei começa a visualizar a vitória diante dos poderosos soldados de Leônidas. Ali, diante dele estava a arma que culminaria a fixação do seu nome na história do mundo. Pelo menos era o desejava e pensava.
Furioso, humilhado e não menos altivo, Lassir vê o seu segredo ser exposto e revelado ao conhecimento daquela gente imunda e promíscua. Sente o calor dos olhares gulosos sobre sua pele e sobre sua intimidade, assim como o vento frio vindo dos corredores.
Ephialtes cobre os lábios com as pontas dos dedos e não consegue esconder sua admiração, seu encantamento e sua súbita paixão pela criatura indefesa e exposta para aquele batalhão de imorais famintos.
- Penso que o Rei Leônidas deva amar o belo irmão de forma tamanha, que escondeu do mundo uma deformidade que lhe custaria a vida! – Xerxes aproxima-se e não se contém. Estende a mão para tocar aquela parte específica do corpo de Lassir. – Você será meu trunfo contra seu poderoso irmão.
- Leônidas não trocará a vida de centenas de espartanos pela minha! Já vivi demais por ter burlado as leis de Esparta! – desdenha Lassir, falando com os dentes travados.
- Pelo amor que seu irmão sente por você, ele cederá. – o rei exibe um sorriso perverso. Volta-se para o corcunda. – Você receberá o que me pediu, meu caro.
Enojado pela traição, Lassir fuzila o homem com o peso de seus olhos. Lindos olhos furiosos! A força daqueles olhos empurram os olhos de Ephialtes para baixo pela vergonha.