300: o outro lado da história
Capítulo Dezenove
Lassir aproxima-se de Gorgo e fica em silêncio, respeitando o momento de reflexão da rainha. Depois de algum tempo, ela se vira para o príncipe e o encara firmemente, encontrando uma estátua com cabelos humanos, protegida pelo uniforme dos soldados espartanos. A única diferença era o tecido protegendo todo o peito e deixando um ombro à mostra.
- Como você está? – ela pergunta.
- Estou vivo e preciso conversar com você.
Gorgo aproxima-se de Lassir e toca-lhe os cabelos escuros. Como ela admirava aquela cascata escura! Muitas vezes aquela pessoa havia despertado ciúmes dentro de sua alma.
- O meu filho teve a honra de conhecer o pai dele. Mas lamento que o seu filho não vá ter nada além das histórias que você contar sobre o Capitão Artemis. – ela toca a barriga de Lassir.
Lassir comprime os lábios num sorriso suave. Seu segredo é que não havia criança alguma. Uma mentira criada apenas para enviar Artemis para a morte e livrar-se das chantagens dele.
- Minha rainha, ainda tenho influência e sou admirado pelos espartanos. – começa Lassir assumindo uma postura militar. Estava lindo! – Consegui em poucos dias, reunir um grupo forte e grande de homens e mulheres dispostos a lutar por Esparta. Poderemos marchar imediatamente para impedir o avanço das tropas do rei Xerxes.
Gorgo olha-o incrédula e irritada pelo atrevimento do jovem cunhado.
- Você fez o quê?
- Sou um soldado bem treinado e pertenço à família de Leônidas. Pela ordem, eu seria o próximo rei, mas prefiro estar sob seu comando, minha rainha.
- Estará sempre sob meu comando, Lassir.
- Deixando de lado a hierarquia, quero que saiba que você me deve isso.
- Como?
- Você me deve esse comando. Quero que comande as tropas contra o exército de Xerxes, antes que o inverno acabe. Sei que ele recuou por receio da ferocidade do inverno e que irá atacar as cidades, no início da próxima estação. Esse é nosso momento!
Estreitando os olhos, Gorgo mostra sua fúria com a petulância do cunhado.
- Você não está em condições de exigir nada!
Lassir dá passos para frente e num gesto brusco, empurra a cunhada para uma cadeira. Inclina-se sobre ela e rosna com os dentes travados:
- Você e Leônidas abandonaram-se à mercê daquele rei louco e doente! Poderiam ter enviado um pequeno grupo para o meu resgate, mas preferiram entregar-me à morte. Depois disso, por ordem de meu irmão e conluio seu, a minha filha Irani foi tirada de mim e usada como instrumento de chantagem, para que eu me casasse com aquele monte de estrume. Meu segredo foi exposto ao conhecimento de todos e posso ser morto por ter mentido.
- O que está dizendo?
- Pensa mesmo que eu acreditei em sua total inocência, quando Artemis escondeu Irani dentro deste palácio? Você e ele usaram a garota para manter-me sob controle e quase conseguiram. Agora, vou pôr você à frente das tropas contra Xerxes!
Gorgo levanta-se furiosa. Empurra o soldado.
- Iremos nos reunir com o senado para decidir...
- Eu já me reuni com os membros do senado e recebi apoio para este levante. Enquanto você chorava a morte de Leônidas, eu me reuni com o senado e acordamos um ataque imediato. E sob o seu comando!
- Devo sentir-me honrada ou ameaçada? Pela lei e hierarquia, você é o responsável por isso!
- Caso você se recuse, “irmã”, serei obrigado a informar ao senado que a morte de Theron, foi um crime passional. Afirmarei que os dois planejavam fugir depois de roubar tesouros, mas você o matou porque ele ameaçou revelar o romance antigo. Posso inventar que Plistarco é filho de Theron e ele perderá imediatamente direito à linha de sucessão.
Gorgo olha o cunhado e exibe a mais terrível máscara de ódio.
- Vou acabar com Xerxes e depois voltarei para acabar com você, Lassir. Invente essa história e eu o acusarei de traição. Afirmarei que o corcunda tinha a informação sobre o local de concentração das tropas, porque recebeu de você. Haverá seu julgamento por traição e quero vê-lo morto depois disso.
Os dois encaram-se em silêncio por alguns instantes. Ela se retira da sala e Lassir a observa afastar-se.
- Você não irá voltar viva, minha cara. Providenciarei eu mesmo, a sua partida.