300: o outro lado da história
Capítulo Três
Encolhido sobre uma cama imensa e repleta de tecidos e travesseiros, Lassir aguardava o seu final trágico. Sabia que Leônidas não negociaria e tampouco cederia à proposta de Xerxes, por isso não nutria esperanças de liberdade, embora fosse lutar enquanto existisse ar em seus pulmões.
Desde o momento em que havia sido aprisionado naquele espaço, já se defrontara com pelo menos três invasores que vieram em busca de prazer com seu corpo. Ele era um guerreiro e mesmo não sendo um homem completo e não podendo servir ao exército real, tinha recebido treinamento militar, sabendo lidar com a espada como poucos. Lutaria até seu esforço ser esvaído totalmente.
Ephialtes abre cautelosamente a porta e entra no local. Trazia uma bandeja com frutas e um jarro com bebida para o prisioneiro. Estava constrangido e envergonhado pela situação.
- Resolveu trair o seu povo, porco? – alfineta Lassir. – Está feliz por prostrar-se diante de Xerxes?
- O meu povo não me quis. Você sobreviveu porque seu irmão é rei e porque tem beleza demais. Caso tivesse nascido em uma família de lavradores como eu, teria sido atirado ao precipício.
Lassir rosna num sorriso falso.
- Sobrevivi porque sou útil! Sou um soldado!
- Em quantas guerras já lutou?
- Lutei batalhas, seu cretino! Mas batalhas em campo e não usei subterfúgios sujos e rasteiros!
Ephialtes aproxima-se da cama e deposita a bandeja sobre um móvel.
- Vou cuidar de você.
Lassir gargalha debochado.
- Cuidar? Até quando? Até meu irmão confirmar que não irá aceitar a chantagem daquele imoral? Depois permitirá que eu seja mais um sacrifício para os deuses persas?
O corcunda nega com um movimento de cabeça.
- Vou cuidar de você. – ele se senta e arrisca encarar o prisioneiro. – Você sequer se lembra de mim...
Com movimentos lentos, Lassir protege-se com um dos lençóis e desce da cama. Aproxima-se do carcereiro e subitamente desfere uma bofetada no rosto dele.
- Por que fez isso? – pergunta o corcunda espantado.
- Isso foi pelo seu abandono! Você me prometeu que voltaria e que fugiríamos juntos. Você fugiu e deixou-me sozinho no palácio, escondendo sozinho o meu segredo!
- Éramos crianças com dez anos!
Lassir inclina-se para frente e rosna.
- Éramos humanos, seu bosta! Você se tornou livre e abandonou-me às regras de Leônidas e do palácio! Nunca fui um menino ou uma menina comum! Nunca pude amar, nunca pude casar-me e sequer pude seguir uma carreira militar! O que sou agora? Caso tivesse fugido com você naquela época, poderia ser um homem livre!
- Seria um homem livre, se você fosse um homem.
Ofendido, Lassir empertiga-se e volta para cima da cama. Enrola-se nos inúmeros tecidos e abraça travesseiros.
- Vou cuidar de você, Lassir. Prometo!
- Saia daqui! Você nem... – o prisioneiro grita, mas se cala repentinamente ao ver a porta ser aberta.
Um homem muito alto, musculoso e careca entra no quarto mantendo os olhos fixos no prisioneiro. Irreconhecível, era Xerxes sem nenhum acessório, protegido apenas por um tecido em torno de sua cintura slim.
Sem dizer uma palavra sequer, o soberano aproxima-se da cama e de forma brusca e potente, arranca Lassir de cima do colchão. Empurra-o e o comprime contra a parede, pressionando seu corpo contra o do prisioneiro.
Inala o cheiro da pele de Lassir e sorri. Como poderia um homem ter aqueles olhos e aqueles cílios? Poderia um homem ser tão bonito como as estátuas dos templos? E por que a natureza havia nutrido aquela criatura com tamanha beleza, indefinindo sua sexualidade? Contra o seu peito estava o peito de um homem, porém, contra suas coxas estavam as partes pudendas de uma mulher. Que confusão linda era aquela?
Lassir treme. Mesmo usando as forças de seus braços para afastar o soberano, não é frutífero em suas tentativas. Era ágil e não forte.
- Eu estou rezando para que os deuses não permitam que Leônidas ceda às minhas exigências. – o soberano sussurra ao ouvido de Lassir. – Você é tão doce e com pele tão macia...não pode ser um homem como eu. Tenho desejo de que você seja deixado sob minha custódia e então irei modificar os meus dias.
- Entregue-me uma espada e eu modificarei os seus dias, devasso!
Xerxes sorri e prende o queixo de Lassir com sua mão forte de soldado. Rosna:
- Leônidas não trocará a liberdade dos espartanos pela sua liberdade. Você não terá mais espaço no palácio de seu irmão, por isso eu lhe proponho casamento.
Lassir abre e fecha os lábios como se fosse um peixe respirando. Não responde.
- Você será a minha rainha, linda Lassir. Em seu ventre, eu depositarei a minha semente e juntos, geraremos filhos fortes, herdeiros do trono da Pérsia.
- Eu sou um homem, desgraçado!
- Seu corpo fala o contrário. – Xerxes é invasivo e pressiona a genitália de Lassir com a mão crispada. – Os deuses criaram alguém como você, com a beleza de uma fêmea e com músculos potentes para carregar filhos poderosos, filhos de Xerxes.
Lassir empurra o soberano e grita ao ver seus esforços inúteis.
- Prefiro morrer em combate!
- Não morrerá. – Xerxes afasta-se e traz consigo o lençol que protegia a nudez de Lassir. Olha a criatura como se olhasse a fruta mais suculenta em seu pomar. Queria colher e saboreá-la. – Você será minha, Lassir. Linda, macia e feroz, será minha poderosa rainha.
O soberano atira o lençol no chão e antes de sair, olha Ephialtes de soslaio e com desprezo.
- Cuide de minha rainha, corcunda. Deposito em suas mãos, a vida da mãe de meus filhos.