300: o outro lado da história
Capítulo Seis
- O que iremos fazer? – o espartano funga e enxuga o rosto com as costas do braço.
- Não quero que se preocupe, Lassir. Está tudo organizado para irmos embora. Irei levar você para longe deste palácio. Conheci passagens secretas neste prédio e nossa fuga não será difícil.
Os lábios pequenos movem-se num sorriso e a presença da mulher naquele corpo acentua-se ainda mais.
- Eu confio em você, Ephialtes. Confio a minha vida...aliás...a nossa vida! – Lassir espalma a mão sobre a barriga.
O corcunda sorri assustado e encantado ao mesmo tempo. Xerxes estava correto quanto à fertilidade de Lassir. Todos estavam correndo risco por isso.
- Quando vocês forem embora, quero ir junto. – a voz de Pérola é ouvida. – Eu conheço toda a verdade e não quero ser obrigada a contar ao rei. Caso eu fique no palácio, serei torturada e terei de contar tudo.
- Tudo o que? – pergunta Lassir.
- Sobre os encontros furtivos que a senhora tinha com o corcunda e sobre o filho que vocês dois esperam.
Lassir e Ephialtes entreolham-se. O choro de Lassir é imediato e dolorido.
- Eu não quero ficar porque o soberano saberá que protegi os encontros dos amantes. Ele me confiou o bem estar da rainha e eu permiti que ela fosse visitada intimamente pelo corcunda. Portanto, eu vou com vocês!
- Para onde vocês vão? – a voz de Xerxes assombra os três.
Um pequeno silêncio invade o quarto para depois ser disperso pela voz serena de Ephialtes.
- Eu pretendia levar sua rainha para caminhar pelos degraus da escadaria externa do palácio. Ela está precisando de exercícios e eu me atrevi a convidá-la. Mas Pérola não confia em mim e acredita que vou derrubar sua rainha.
Xerxes sorri e estreita os olhos de forma desconfiada.
- Saiam. Quero falar com minha futura rainha.
Em poucos minutos, Lassir e Xerxes estão sozinhos. O soberano engole sua presa apenas com os olhos. Imagine que ela ficaria ainda mais bonita dentro de vestidos elegantes e joias adornando seu corpo.
- Eu pretendo realizar nosso casamento em poucos dias. Devido aos tempos de guerra, não irei ostentar como é meu sonho. Porém, depois de nossa vitória sobre os espartanos, darei uma festa pomposa para comemorarmos.
- Não irei participar desta farsa...
- Cale-se.
- Não vou participar disso porque não sou mais virgem e estou carregando o filho de outro homem.
Xerxes não demonstra sobressalto. Continua com seus olhos brilhantes e escuros na direção do rosto de Lassir. Estende a mão e toca-lhe o queixo e sorri.
- Acredita mesmo que poderá evitar o nosso matrimônio? Homem algum dentro deste palácio seria tolo o suficiente para tocar o que foi marcado para ser meu. Isso não é verdade, ou eu teria de abrir o seu ventre com minha espada para confirmar sua fala.
Os olhos de Lassir arregalam-se e o azul torna-se mais vívido e brilhante. Duas imensas safiras enfeitando o que a natureza já havia enfeitado.
- Você permitiu mesmo que algum homem tocasse seu corpo?
Silêncio.
- Repito: você permitiu mesmo que algum homem tocasse seu corpo?
- Não...
- Quando você falar comigo, quero que se refira a mim como “seu rei”. Repita o que me respondeu.
- Não, meu rei.
- Em três dias e três noites, nosso casamento será realizado. Meus conselheiros, alguns políticos e dois de meus generais irão participar. – o rei inclina-se e beija a testa daquela que seria sua rainha. – Deixarei minhas servas ao seu serviço porque a quero ainda mais bela.
- Sim, meu rei.