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A Bela e o Lobo

By: Bewinha
folder Misc. Non-English › Harry Potter
Rating: Adult ++
Chapters: 1
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Disclaimer: I do not own the Harry Potter book and movie series, nor any of the characters from it. I do not make any money from the writing of this story.

A Bela e o Lobo

A Bela e o Lobo


1


- Mais depressa, Philip! Mais depressa!

Na imensa vastidão da noite os únicos sons que se ouviam eram o barulho dos cascos ferrados do cavalo que seguia a galope e a melodiosa mas ofegante voz que o incitava a continuar.

Às duas da madrugada era invulgar ver alguém, fosse quem fosse, passar a galope numa estrada mal visível e rodeada de pura floresta a milhas de distância da civilização mais próxima. O mais estranho, apesar de tudo, era ninguém, absolutamente ninguém, seguir estes dois companheiros de viagem que, no entanto, se comportavam como dois perseguidos.

A floresta que os envolvia era agreste e cerrada, de modo que as duas figuras passavam praticamente despercebidas. No entanto os irregulares e poucos raios lunares que conseguiam penetrar as densas copas das árvores e acariciar toda a sua vida (animal e vegetal) deixavam vislumbrar, por breves momentos, um cavalo de porte robusto de o que pareciam ser vários tons de castanho. O animal resfolgava e parecia manter aquele galope há já bastante tempo, no entanto mantinha o ritmo como se soubesse que ainda não se podia dar ao luxo de parar. Montada no cavalo e aparentando estar tão cansada como este, estava uma jovem. Não aparentava ter mais de dezoito anos e, apesar de ter a tez carregada, era impossível não nos apercebermos imediatamente das suas feições de beleza transcendente. Esta olhava com alguma regularidade por cima do ombro assegurando-se de que não tinha ninguém atrás de si.

Passaram-se mais duas horas até haver uma primeira mudança de comportamento por parte tanto do montante como da montada. O cavalo pôde finalmente começar a diminuir a intensidade do seu galope até chegar a um trote apressado e a rapariga deixou de se preocupar em olhar para trás. Ambos viam, agora, com clareza o magnifico castelo de magia e feitiçaria de Hogwarts. Quando por fim o equídeo parou, tinham chegado à borda do lago que separava a velha estrada dos terrenos da escola. A rapariga desmontou e parou um pouco para recuperar o fôlego.

- Conseguimos... estamos a salvo. Conseguimos Philip. – disse afagando as crinas do seu leal corcel. – Chegámos a Hogwarts.

Com algum cansaço guiou o exausto animal para dentro de um dos botes, assegurando-lhe toda a viagem de que estava tudo bem e que nenhum mal lhe ia acontecer. Quando finalmente pisaram os terrenos da escola, ela quase sorriu. Quase. Depois de olhar à sua volta começou a dirigir-se para a pequena e acolhedora cabana do outrora guarda dos campos, agora professor de cuidados a ter com as criaturas mágicas. Bateu, algo hesitante, e após esperar alguns momentos (preenchidos pelo ladrar de Fang) uma luz acendeu-se e ouviu-se o som de algumas panelas caírem no chão e alguém disse: ”P’las barbas de Merlin! Já nã s’pode dormir descansado! ”A porta abriu-se e Hagrid olhou confuso para a bela jovem que tinha diante de si.

- Quem diabs és tu, rapariga?

- Olá Hagrid. Já não te lembras de mim?

Hagrid aproximou mais a candeia, que segurava na mão, da cara da moça e, após uma inspecção mais detalhada esclamou:

- Belle! És mesm tu? Com’ cresceste rapariga! – disse abraçando-a como se esta ainda fosse uma criança e não pesasse absolutamente nada. Esta retribuiu o abraço, embora os seus finos e pequenos braços (em comparação com os de Hagrid) não chegassem a metade das costas do seu padrinho.

- Sim, sou eu. – respondeu com alguma nostalgia.

- Que fazes aqui? E ‘inda mais a estas horas da noite? Aconteceu alguma coisa?

Belle baixou o olhar para o chão e os seus punhos cerraram-se. Hagrid percebeu de imediato que algo de grave deveria ter acontecido.

- Anda, vamos p’ra dentro. Podes contar-me tudo junt’ à lareira cum’a boa caneca de chá.

A rapariga olhou para o cavalo.

- Podes deixá-l’ aí no estábulo q’utilizo p’ra algumas aulas.

Philip foi levado para o estábulo e ficou com alguma palha e um balde cheio de água que bebeu de bom grado.

Quando Belle chegou à cabana, Hagrid já estava a deitar o chá em duas grandes canecas. Esta fechou a porta e olhou em volta. A cabana não era muito grande e estava bastante desarrumada mas naquele momento pareceu-lhe o lugar mais seguro e confortável do mundo.

- Tir’ a capa e vem t’aquecer. Deves ‘tar gelada.

Belle obedeceu e foi-se sentar no pequeno sofá ao lado de Fang, que a começou a cheirar com bastante interesse. Hagrid ofereceu-lhe uma das canecas fumegantes, a qual ela agradeceu e ficaram os dois, durante longos momentos, a beber o chá em silêncio.

- Q’ ando a tua mãe me disse que tu irias ser mais bela qu’ ela, eu disse-lhe que isso seri’ impossível.... Mas, como sempre, a minha bel’Arlete tinha razão. – disse Hagrid com um sorriso agridoce. – Q’ idade já tens? Dezasseis?

- Vinte.

- Já?!? C’ mo tempo passa. ‘Inda ontem eras o bebé mais bonito que já vi.

- Ele voltou, Hagrid. – interrompeu a bela jovem. As feições do seu padrinho ficaram carregadas e sombrias, por trás de toda aquela farta barba preta.

- Ele? Certamente nã tás a falar de... P’las barbas de Merlin! O patife tem boa memória!

Belle pousara a caneca e agarrava a saia do vestido com força, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam correr muito em breve.

- Desculpa aparecer assim, no meio da noite mas... – por muito que tentasse, a jovem não conseguiu conter as lágrimas. – não tinha mais nenhum sítio para onde ir. – a cara da bela rapariga estava inundada de lágrimas. – E o pior é que não faço ideia de como está o meu pai. – Por fim, irrompeu em soluços inconsoláveis. Hagrid não sabia o que fazer. Nunca tinha tido experiência com mulheres e a coisa mais próxima que tinha tido de filhos eram as suas criaturas, que a maioria considerava repugnantes. Hesitantemente levantou-se e desajeitadamente abraçou-a, tentando consolar a pobre menina.

- Estou tão preocupada com ele.... Eles são impiedosos.

- Nã te preocupes. Vamos já falar co’ a senhora directora. Ela vai-t’ ajudar de certeza.

- Achas? – perguntou esperançada a rapariga, limpando a sua (agora vermelha) cara.

- Tenh’ a certeza. A directora McGonagall é a melhor directora q’ Hogwarts já teve, depois de Dumbledore; descanse a sua alma.

- Achas que ela me deixa ficar aqui?

- Vamos já ver isso. Vest’ a capa, vamos já ter co’ ela.

- A esta hora?

- É um’ emergência. Ela vai entender.

A rapariga fez o que lhe foi dito e seguiu o seu gigantesco padrinho através da neve, até à enorme porta de madeira que dava para o interior do velho mas admirável castelo.
Belle não fazia ideia de como Hagrid não se perdera. Subiram pelo menos três andares, através de incontáveis lances de escadarias, que a confundiram ainda mais ao mudarem de direcção constantemente. Atravessaram compridíssimos corredores e passaram por centenas de portas e ainda mais janelas.

Por fim, pararam frente a uma porta, igual a todas as outras pelas quais já tinham passado. Algo hesitante, Hagrid bateu à porta e esperou. Passado pouco tempo, esta abriu-se revelando uma mulher já de certa idade mas que, na opinião de Belle, estava longe de ser considerada velha. Estava envolta num longo robe bordeux, o cabelo preso numa longa trança branca e olhava-os, atónita.

- Hagrid. Suponho que algo de grave se passe? – disse num tom que deixava bem claro, que se não fosse, haveria consequências.

- Desculp’ incomodar, senhora directora, sei qu’é tarde mas preciso de falar ca senhora.

- ...

- É importante. – acrescentou.

- Muito bem. Vamos então para o meu escritório.

Fizeram então mais uma exaustiva “visita guiada” ao castelo, até pararem em frente a uma estátua que Belle não conseguiu identificar, por causa da escuridão.

- Chá de limão. – ouviu a imponente mulher dizer e imediatamente a estátua deu lugar a um lance de escadas. Escadas essas que depois de subidas deram directamente para o gabinete. Se fosse outra altura, Belle ter-se-ia dado ao trabalho e prazer de observar a sala e tudo o que continha. A directora indicou-lhes que se sentassem, enquanto esta fazia o mesmo. Sentaram-se os dois, um pouco desconfortáveis, embora Belle suspeitasse que por razões diferentes. Do canto do olho podia ver vários quadros acordar, curiosos com o que se estaria a passar.

- Chá ou biscoitos? – perguntou educadamente, sabendo perfeitamente que nenhum deles estaria ali para petiscar uma ceia.

- Nã, obrigado.

- Não, obrigada.

Responderam os dois em uníssono.

- Bem, nesse caso sugiro que passemos ao que interessa. Alguém me pode dizer porque estamos aqui a meio da noite?

- A culpa é minha. – disse imediatamente Belle. – E peço imensa desculpa por ter de a acordar.

- Tá a ver, senhora directora, aqui a Belle é minha afilhada. E ela nã tinha mais ninguém que lhe pudesse dar abrigo.

- E porque é que ela precisa de abrigo? – perguntou a directora, estudando pormenorizadamente a rapariga.

- É uma história um pouco comprida. – respondeu ela, timidamente perante o estudo atento a que estava a ser submetida.

- Temos toda a noite.

Vendo que talvez fosse demasiado para a jovem, ter de falar, Hagrid decidiu ser ele a contar a história.

- Bem, começou tudo há mais de vint’ anos atrás, quand’ a mãe da Belle, a minha querid’ Arlete, ainda estudava na escola de Beauxbatons. Ela era considerad’ a bruxa mais b’nita que já lá tinha estudado, o que se quer saber a minha opinião era totalmente verdade.

- Como a conheceste, Hagrid, se não é indiscrição?

- No Torneio dos Três Feiticeiros, realizado aqui em Hogwarts, enquanto era estudante. Continuando,... acho que foi no seu sétim’ ano que Fenrir Greyback e o seu bando, se divertiram a aterrorizar aquela escola. Ele viu-a e acho que a fixou como uma presa. – nesta altura, tanto Hagrid como McGonagall se aperceberam de que Belle não seria capaz de ouvir toda a história. A jovem mulher tremia como se estivesse ao relento e toda a cor da sua cara se tinha extinguido.

- Belle, tás bem?

- ...

- Menina...?

- Colton. – respondeu com alguma dificuldade a rapariga.

- Menina Colton, gostaria de ir dar um passeio pelo castelo? Vai achar Hogwarts encantador.

- Muito obrigada, ... agradeço imenso. – disse levantando-se. – Com licença. – disse saindo do gabinete que, naquela altura, lhe parecia claustrofóbico.

- Muito bem, Hagrid, podes prosseguir.

- Pois, ... ond’ é que’u ia?

- Greyback tinha ganho um interesse em Arlete.

- Ah! Sim, é verdade. Ela conseguiu escapar-lh’ enquanto esteve na escola. Mas, quando saiu, ele encontrou-a facilmente. A Arlete era uma bruxa dotada e, no dia do seu casamento com Maurice Colton, ela podia muito bem ter morto Greyback. Mas como era também a pessoa mais piedosa qu’ alguma vez conheci, deixou-o apenas ferido. Greyback jurou voltar, p’ra apanhar. No inicio todos tememos um pouco, mas os anos foram passando e Greyback nunc’ apareceu. Eventualmente, Arlete esqueceu-se do assunto e foi vivendo a sua vida, despreocupada. Era disso que Greyback estava à espera. Uma noite, em que Maurice nã estava, (acho que tinha ido p’ra fora, em trabalho)ele apareceu co seu bando. Eles eram p’lo menos vinte e Arlete estava sozinha, cuma filha de seis anos. Eventualmente acabou por ser apanhada. – Hagrid parou e McGonagall percebeu que ele estava a ganhar coragem para continuar, por isso preparou-se para ouvir o pior. Este inspirou profundamente e prosseguiu: - A Arlete foi violada e depois mordida. Mas nobre com’era, recusou-se a ser como ele, por isso nos instantes seguintes matou-se.... A Belle assistiu a tudo. Aquele filho da mãe fez questão qu’ela visse tudo e a única razão p’la qual nã a matou, foi porque percebeu qu’ela herdara a beleza da mãe. Disse-lhe, então, que voltaria mais tarde, p’ra lhe fazer o mesmo que fizera à mãe. A pobre criança foi encontrada p’lo pai, três dias depois, agarrada ao cadáver da mãe.

Por esta altura, grande parte da cor de McGonagall lhe tinha fugido. Até era de espantar como é que a rapariga estava ali e não num hospital, internada, devido ao choque.

Belle passeou-se um pouco, até se aperceber de que estava completamente perdida. Mas nem essa preocupação a conseguiu impedir de se lembrar daquela noite. A noite mais clara na sua memória. A única noite que ela desejava não se lembrar. Diz-se que quando alguém morre, as recordações com que ficamos dela são as mais recentes. Infelizmente para Belle isso era bem verdade. Por muito que tentasse, as boas memórias da sua mãe foram-se apagando muito rapidamente e as únicas que tinha neste momento eram as daquela horrenda noite. “Não é justo!”

- Não é justo! – soluçou, à medida que as lágrimas iam correndo livremente. – Eu quero lembrar-me do teu sorriso.... Quero tanto, ... mas não consigo. Simplesmente não consigo.


“He drowns in his dreams
An exquisite extreme I know
He’s as damned as he seems
Moore heaven than a heart could hold
And if I tried to save him
My whole world could cave in
Just ain’t right
Just ain’t right”

Remos Lupin suspirou, pelo que lhe pareceu, pela quinquagésima vez. Eram praticamente quatro da madrugada e ele não tinha um pingo de sono. E estava a tornar-se aborrecido continuar a olhar para o tecto.

“Um passeio era capaz de fazer bem. Pode ser que me canse e depois o sono apareça, eventualmente. Se não, pelo menos fiz alguma coisa para além de olhar para o vazio.”

Levantou-se da cama e só precisou de vestir a sua velha capa castanha, visto que não tinha chegado a tirar as roupas do dia. Com bastante habilidade, abriu a porta sem fazer qualquer barulho, e, foi-se passeando inaudivelmente pelos corredores que conhecia de olhos fechados. Mesmo que não fosse assim, a sua visão sobre-humana permitia-lhe ver claramente, no escuro.

“Parece que foi na semana passada, que me graduei em Hogwarts com o Sirius, o James, a Lily, o Peter e o Severus . Até o Lucius Malfoy.” Mas não tinha sido na semana passada. De facto, já tinha sido há bastante tempo. Desse grupo, os que eram seus verdadeiros amigos, tinham morrido. O destino dos outros... não tinha sido melhor. A sangrenta guerra contra Voldemort tinha terminado há um ano. E ele, um reconhecido “herói” da guerra, tinha, finalmente, ganho um pouco de respeito por parte da comunidade em geral. Isso tinha-lhe dado a hipótese de voltar a ensinar em Hogwarts. Estava quase tudo perfeito. Quase.

Suspirou. Andava a fazer isso muito ultimamente. A verdade é que o seu lobo, andava bastante inquieto e ele sabia perfeitamente o que era. Ele queria uma companheira. Mas isso era impossível para ele. A única vez que chegara a ponderar essa possibilidade fora quando Tonks lhe revelara os seus sentimentos. Mas chegou à conclusão de que era demasiado perigoso, arriscar o que quer que fosse com alguém. Além disso havia a diferença de idades. Ele já não era propriamente um jovem, embora a sua aparência dissesse o contrário. Toda a gente lhe tirava, pelo menos, dez anos aos seus quarenta. Não havia hipótese de resultar. “Pois. Isso e o facto de tu não retribuíres os sentimentos da mesma maneira.”

Remos teria continuado com os seus problemas, não tivessem sido os seus sentidos inundados por um perfume maravilhoso. Era uma pessoa, sem dúvida. O que estaria um aluno a fazer fora da cama àquelas horas? Serviu-se do seu nariz, para o guiar até à pessoa em questão. À medida que se ia aproximando, pôde decifrar as fragrâncias que compunham o indivíduo em questão. Sim porque, apesar de os humanos comuns não terem conhecimento disso, todos eles tinham um cheiro muito característico. O que para ele, infelizmente, nem sempre queria dizer bom. Era uma mulher, sem qualquer sombra de dúvida. Todo o seu cérebro estava inundado de um doce aroma puramente feminino. Mas o que o fez perder a cabeça, foi o seu cheiro característico. Livros e chocolate. Uma combinação perfeita, se lhe perguntassem. Duas das suas coisas favoritas. Pela primeira vez desde há muito tempo, deixou de ter qualquer controlo sobre o seu sistema hormonal. Parecia um adolescente acabado de descobrir as maravilhas do sexo oposto. “Controla-te Remus! É uma aluna, por amor de Merlin!” Por fim, pôde vislumbrar uma jovem sentada a um canto, com os joelhos levantados ao peito, os braços em volta destes e a cabeça sobre eles. Só alguns segundos depois, se apercebeu de que ela estava a chorar.

Lentamente, foi-se aproximando, sem que ela desse por isso. Quando, finalmente, estava a dois meros passos dela, a jovem falou sem levantar a cara. A sua voz estava abafada, mas ele conseguiu ouvi-la na mesma.

- Não é justo! – soluçou, à medida que as lágrimas iam correndo livremente. – Eu quero lembrar-me do teu sorriso.... Quero tanto, ... mas não consigo. Simplesmente não consigo.

Como que impelido por um impulso mais forte que ele, Remos ajoelhou-se e abraçou-a. A rapariga ficou rígida por alguns instantes mas depressa se deixou envolver no seu abraço reconfortante. A sua dor era quase palpável e Remus daria tudo, naquele momento, para a poder fazer esquecer tudo o que a atormentava. Ela não devia ser obrigada a passar por tudo aquilo, fosse o que fosse.

“In a perfect world
One we’ve never known
We would never need to face the world alone”

Belle estava tão absorvida na sua dor, que nem ouvira Hagrid. Só quando este a abraçou, é que ela se apercebeu de que não estava sozinha. Provavelmente foi devido à dor que estava a sentir, mas o abraço que este lhe deu, foi o melhor que alguma vez recebera. Era mais quente e meigo que o habitual. E a sensação de que estava completamente segura, era imensa. Belle deu por si, a desejar que aquele momento nunca acabasse. Mas, de repente, houve algo, que acabou o encanto imediatamente. Foi uma voz. Uma voz, que definitivamente, não pertencia a Hagrid. Era muito menos forte, (embora não deixasse de ser masculina) mais baixa e ligeiramente rouca (embora Belle suspeitasse que normalmente não era assim) e bastante... Sexy?

- Está tudo bem. – disse a voz num sussurro. Uma das mãos que a tinham segurado com tanta ternura, afagava-lhe, agora, o cabelo. A rapariga sentiu-se imediatamente a corar. Era a primeira vez que se encontrava nos braços de um homem que não fosse o seu pai ou Hagrid. “Então, é isto que se sente nos braços de um homem.” Seria assim que todos os braços dos homens eram suposto sentir? Ou eram só os deste? Um pouco assustada, com a confusão de sentimentos que pairavam dentro de si, Belle desfez o abraço e afastou-se ligeiramente do estranho. A sua curiosidade estava a comê-la viva, mas por muito que tentasse, não conseguia arranjar coragem suficiente para olhar para ele.

Remus olhou para a jovem. Deveria ser do sétimo ano. Mas por incrível que pudesse parecer, ele não tinha a mínima ideia de quem ela era. Observou-lhe atentamente as feições. Tinha os olhos e o nariz inchados e vermelhos de tanto chorar. Qualquer pessoa diria que ela parecia um caco, mas para ele estava perfeita. Tinha um sedoso cabelo castanho, preso por um laço, que Remus tinha vontade de esfarrapar em mil pedaços, para que os seus macios caracóis lhe pudessem adornar a linda face livremente. Os seus olhos eram muito pestanudos e de uma cor bastante idêntica à do cabelo, e por fim os seus lábios. Perfeitamente esculpidos. Aqueles lábios pareciam ter sido esculpidos pelos próprios Deuses. Remus deu por si a ter de se controlar para não os provar naquele instante.

Ele, eventualmente, acabou por perceber que a rapariga estava envergonhada. “Provavelmente por ter sido apanhada por um professor e ainda mais neste estado.” Mas era impossível para ele estar zangado com ela, por ter transgredido as regras da escola. Tudo o que ele conseguia identificar era uma profunda pena. Aqueles belos olhos não mereciam espelhar tanto sofrimento.

- Está tudo bem. – repetiu, desta vez colocando o indicador debaixo do seu queixo e levantando-lhe a cara, para que olhasse para ele.

- Está tudo bem. – ouviu-o repetir enquanto lhe pousava o indicador por baixo do queixo e suavemente a obrigou a olhar para ele.

Belle ficou desiludida ao constatar que não conseguia ver a cara do desconhecido.
- Como te chamas? – perguntou ele. Belle abriu a boca para responder, mas a voz de Hagrid ecoou nas velhas paredes.

- Belle! Onde te meteste?

- Tenho de ir. – disse levantando-se. – Obrigada. – e dito isto, correu na direcção da voz de Hagrid.

Remus ficou um pouco confuso (não como a Floribella). Porque estaria Hagrid a chamar por ela e ainda mais a esta hora da madrugada? Ele nem sequer ficara a saber o seu nome. “Espera. O Hagrid chamou-a.... Que nome é que ele utilizou?” Era inútil. O seu cérebro na altura não estava a funcionar como devia e ele não tinha registado o que Hagrid dissera. “Não faz mal. Amanhã vejo-a ao pequeno almoço.” Pensou, levantando-se e fazendo de volta o caminho para os seus aposentos.

O silêncio que se instalara no gabinete de McGonagall, era pesaroso.

- Vou já mandar uma coruja ao ministério da magia, pedindo que vão a casa dela para saber do pai. Mas Hagrid, temo o pior.

O semi gigante acenou compreendendo.

- Agradeço na mema.

- Quanto à rapariga, ... como se chama ela?

- Isabelle. Mas todos lhe chamamos de Belle.

- Quanto à Belle, sendo a sua única família, é óbvio que pode ficar aqui. Vou providenciar imediatamente uns aposentos para ela.

- Nã se preocupe com isso. Ela pode ficar na cabana comigo.

- Tens a certeza de que queres partilhar a pequena cabana com uma jovem mulher, Hagrid? Porque é isso que ela já é.

- Tem razão directora McGonagall. – disse o semi gigante corando. - É melhor ela ficar aqui memo.

- Em que é que ela é melhor? Sabes? Assim ela poderia ajudar um dos professores.

- A Belle nã tem poderes. Pessoalmente, nã acho que seja verdade. É qu’eu tenho uma teoria, sabe. – disse, aproximando-se mais da secretária da directora, como se fosse dizer um segredo. – Se me perguntarem, eu acho que foi o choque. Bloqueou-lhe a veia mágica.

- É possível. – disse McGonagall pensativa. – Nesse caso, torna-se difícil saber onde a colocar.

- Nada disso. – disse entusiasmado, Hagrid. – Sabe, eu passei pouco tempo com a gaiata mas consegui pegar-lhe o meu gost’único p’las criaturas mágicas. – concluiu orgulhoso.

- Sendo assim, ela pode ajudar-te nas tuas aulas e em algumas do Professor Lupin. – estabeleceu, assim, a directora. – Podes chamá-la e dar-lhe as novidades. Eu vou providenciar os seus aposentos e a carta. – disse saindo.

Hagrid levantou-se e espreitou para o corredor mas não a viu. “Ond’é ca gaiata se meteu?”

- Belle! Onde te meteste?

Não teve de esperar muito, pois, passado algum tempo a rapariga apareceu. Estava corada e a sua respiração era irregular.

- Onde te meteste?

- Perdi-me. – foi a resposta da rapariga.

- Parece qu’andaste a correr atrás d’Unicórnios. – riu ele. Belle deu um fraco sorriso, como resposta.

- Tenho boas notícias. A directora deixou-te ficar, tal com’eu te disse e foi agora mesmo pedir ao ministério que fossem ver do teu pai.

- A sério?

- Achas qu’eu ia brincar cuma cousa destas?

- Que bom. – disse Belle, mais para si do que para ele.

Pouco tempo depois, McGonagall voltou. Olhava a rapariga, como olhava qualquer outra pessoa. Mas, se prestássemos atenção aos seus cansados olhos, veríamos a compaixão que sentia pela órfã.

- Sigam-me, por favor. – disse no seu tom rígido, de comando.

Andaram mais um pouco, mas desta vez já não pareceu tão confuso, como das duas primeiras. Pararam em frente a outra porta e McGonagall virou-se para ela.

- Estes são os teus aposentos de agora em diante. Presumo que não tenhas mais roupa contigo? – A rapariga, atónita, respondeu mudamente que não.

- Nesse caso, dentro de pouco tempo há de aparecer um Elfo com algumas roupas antigas, minhas. Vais trabalhar com o Hagrid e com o nosso professor de Defesa Contra as Artes Negras, assistindo no que for preciso. É claro que serás paga por isso e serás tratada como um membro funcionário do castelo, tal como todos os professores, a enfermeira, a bibliotecária e o guarda nocturno. – quando esta acabou o seu pequeno discurso, Belle olhava, aparvalhada, para ela. Os seus olhos estavam húmidos, como se estivesse a fazer um esforço para não chorar. Depois de alguns momentos assim, a jovem abraçou-a, deixando uma McGonagall muito atrapalhada.

- Muito obrigada por tudo. Eu nunca hei de esquecer o que está a fazer por mim.

“Será que ela se meteu em sarilhos, por estar fora da cama a estas horas?” Remos tinha agora a certeza de que não iria conseguir dormir. O seu cérebro ainda não tinha conseguido desviar-se daquele encontro fatal. Se antes não conseguia dormir por causa do tédio, então agora era por falta dele. Estava assustado. Não era suposto estar a agir desta maneira e muito menos por causa de uma aluna. Mas havia algo que o assustava muito mais.... Pela primeira vez na sua vida, ele e o lobo tinham desejado a mesma coisa. Tinham ambos estado em perfeita sintonia e ele não sabia se isso era bom ou mau.


Belle estava a examinar os seus novos aposentos; a sua nova casa, quando de repente ouviu um “Ploc!”. Voltou-se e viu um pequeno Elfo, com uma enorme arca, que lhe sorria.

- Menina ser, a menina Isabelle Colton? – perguntou ele com os seus grandes olhos, a olhar para ela.

- Sou, sim. Mas podes chamar-me apenas Belle. – disse sorrindo-lhe.

- Menina Belle, Doby trouxe-lhe as suas roupas. Roupas bonitas para menina bonita.
- Muito obrigada, Doby. – agradeceu Belle, agachando-se e dando-lhe um beijo, na suja face.

- Menina! – guinchou Doby. – A menina deu um beijo a Doby! Doby ficar eternamente grato. Doby fazer tudo o que menina precisar. É só pedir que Doby faz. – disse, comovido assoando o longo nariz num velho guardanapo.

- Fica combinado, Doby. Se eu alguma vez precisar de alguma coisa, não hesitarei em pedir-te.

O Elfo acabou por ir, (enxugado em lágrimas) deixando Belle com os seus pensamentos. E estes recuaram todos para o sucedido no corredor. Para o misterioso estranho, que tinha mostrado tanta compaixão, para com ela. As suas faces, voltaram a corar, quando pensou que tinha estado nos seus braços e que tinha desejado nunca sair dali. “Foi a fraqueza do momento. Certamente, se eu não estivesse tão abalada, nunca teria sucedido tal coisa.”