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O Prisioneiro e a Cigana

By: Bewinha
folder Misc. Non-English › Harry Potter
Rating: Adult ++
Chapters: 1
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Disclaimer: I do not own the Harry Potter book and movie series, nor any of the characters from it. I do not make any money from the writing of this story.

O Prisioneiro e a Cigana

O Prisioneiro e a Cigana


1


- Que frio!!! – Sirius Black apertou mais, contra si, a comprida capa preta que o envolvia.

Sim, Sirius Black. Não, ele não estava morto como muitos haviam pensado ou desejado. Na verdade, tinha estado mais morto em Azkaban do que quando caíra no véu. No entanto, se lhe perguntassem o que fez quando lá esteve ou o que existia por detrás do véu, ele seria incapaz de responder. Não se lembrava de absolutamente nada. A única coisa de que se lembrava era de lá cair e depois acordar já fora dele com energia para dar e vender. Mas o que é certo é que, segundo o que lhe tinham dito, tinha lá estado durante três anos. Três anos. Ele era capaz de jurar que tinham sido três minutos. Contudo, a passagem desses três anos era bem evidente. O mundo para o qual Sirius tinha acordado(literalmente), era agora livre de Voldemort. Harry tinha-o derrotado dois anos depois da sua suposta morte. Estava noivo da filha mais nova dos Weasleys e Sirius não podia evitar a grande sensação de dejá-vu que sentia ao olhar para os dois. Era como se estivesse a olhar para o James e a Lily outra vez (só que com a cor de olhos trocada). Era como se voltasse atrás no tempo e estivesse de novo com os seus amigos de infância/juventude. “Por falar em amigos... já não faço uma visita ao Remus a algum tempo. Não que ele sinta muito a minha falta.” Pensou com um sorriso. Foi um espanto e choque(sobretudo choque) para ele acordar e saber que o seu melhor amigo se tinha casado. O Remus sempre pusera de parte a ideia de constituir família devido aos seus complexos absurdos. Mas aparentemente nem ele tinha sido capaz de resistir aos encantos do amor. A Belle era uma mulher encantadora e Sirius não podia deixar de pensar que não existiam almas tão parecidas e tão destinadas como aquelas duas. Eram o espelho um do outro. “Tão parecidos que hás vezes até arrepia.” No entanto, a felicidade do amigo tinha vindo com um preço e Sirius sentia-se bastante só. Remus era o último amigo que lhe restava e agora para além de professor de Defesa Contra as Artes Negras, de Hogwarts, estava casado. O tempo que passavam juntos era muito pouco. Sim, ele era convidado todas as semanas para ir jantar com o “jovem” casal mas... não era a mesma coisa. Não que não gostasse da companhia deles mas vê-los aos dois a interagir um com o outro era algo incómodo. “Para ti qualquer coisa relativamente séria é incómoda.”... Não é que Sirius não acreditasse no amor. Só não era para ele, pura e simplesmente não queria ter nada que ver com o assunto. Muito provavelmente a culpa era da sua família e da falta de amor que tinha sofrido por parte dela. Ou então eram os genes. Se ninguém na sua família era capaz de amar, porque é que ele haveria de ser uma excepção? “De qualquer das formas estou bem assim.” Quem é que queria uma vida de casado, quando podia ser um solteiro despreocupado? “Eu não.”

Acelerou o paço quando avistou o pequeno bar que passara a frequentar. Ficava a uns quantos metros da sua casa e o ambiente era acolhedor. Apesar de detestar Grimmauld Place e todas as recordações que lhe trazia aquele número catorze (excepto as do quinto ano de Harry, quando este e os Weasleys lá passaram as férias de Verão)acabou, eventualmente, por voltar para lá. Afinal, não fazia muito sentido ter de alugar um quarto quando se tem um casarão à nossa inteira disposição. E mais, era de alguma forma reconfortante saber que, muito provavelmente, os seus antepassados andavam às voltas nas campas ao constatar que ele tinha voltado e tinha reclamado de novo a sua preciosa casa. Desde que tinha regressado para casa (há três meses atrás)tinha decidido remodelá-la e apagar qualquer vestígio dos anteriores Black e das suas ligações à magia negra. Todavia, três meses depois, a casa continuava tal como estava há seis gerações atrás. Verdade seja dita, Sirius era um grande calão. Como tal, por muito atraente que a teoria fosse, ainda não tinha movido um dedo para a pôr em prática. “Mas depois queixo-me que não tenho nada para fazer.”

Abriu, sem cerimónia e sem hesitação, a porta do grande, mas acolhedor bar com o qual já estava familiarizado. Vir tomar um copo já era uma rotina. Tanto feiticeiros, como Muggles frequentavam o estabelecimento (o que agradava a Sirius pois a variedade de bebidas era extensa)embora, os últimos, não tivessem noção da verdadeira identidade de alguns dos companheiros de bebidas e borgas. Sirius já tinha conhecidos de ambas as partes. A sua natureza extrovertida e brincalhona permitia-lhe travar conhecimento com praticamente qualquer pessoa em praticamente qualquer lugar.

Parou na entrada e observou o interior que o rodeava. “Hm... deixa cá ver... seis feiticeiros, sem dúvida e... dois, ... não, três Muggles... e aqueles dois ali, não faço a mais pequena ideia.” Depois de tirar as suas conclusões, aproximou-se do balcão e sentou-se num dos bancos vazios. Estava mesmo a meio. Parecia não poder viver sem chamar a atenção. Mesmo inconscientemente, era incapaz de se sentar a um canto ou esconder-se fosse do que fosse. Assim que o viu sentar-se, o barman dirigiu-se a ele.

- Boa noite, Sirius. Então, o que vai ser hoje? – perguntou-lhe o já familiar homem.

- Boa noite, Peter. Pode ser... um Whisky... duplo. - O simpático homem acenou com a cabeça e dirigiu-se para a prateleira onde tinha expostas algumas garrafas.

- Velho ou novo? – perguntou, como se já soubesse a resposta.

- Velho, como sempre. – foi a resposta de Sirius.

- Que frio!!! – Esmeralda apertou mais, contra si, a comprida capa azul que a envolvia a ela e Djali, a sua cabrita. “Está a ficar tarde e cada vez mais frio... o melhor é hoje comermos algo quente para ajudar a passar a noite.” O seu olhar percorreu o espaço que as rodeava. O único estabelecimento que estava aberto parecia ser um bar, a alguns metros de distância. “Vai ter de servir.”

- Só mais um pouco, Djali.

- Eu diria que hoje vais ter sarilhos. – comentou casualmente Sirius, olhando, por trás do ombro, para o grupo de feiticeiros reunidos a uma mesa. As bebidas eram mais que muitas e já tinham passado a fase de “alegres” há duas horas atrás. Agora estavam completamente bêbedos.

- Pode ser que se vão simplesmente embora. – respondeu Peter com alguma apreensão. Peter, apesar de conviver com feiticeiros, era Muggle. O que o deixava numa desvantagem considerável se tivesse de expulsar os seis feiticeiros bêbedos e, com certeza, armados.

“Duvido.” Pensou o “jovem” Black.

- De qualquer das formas vou ficar até eles se irem embora. – respondeu Sirius. Peter deu um fraco sorriso de agradecimento e voltou à sua tarefa de lavar copos.
Foi então que a porta se abriu.

Esmeralda olhou os indivíduos que ocupavam o bar. Todos a olhavam com bastante interesse. Examinou-os com mais atenção. “Hm... deixa cá ver... seis bêbedos, sem dúvida e... um idiota qualquer.” Era preciso mais do que isso para a assustar. Abriu a capa e deixou Djali saltar para o chão, depois retirou-a e avançou para o balcão. Todos a olhavam com bastante interesse.

- Boa noite. – disse dirigindo-se ao barman.

- Boa noite. Menina, vai-me desculpar, mas não são permitidos animais.

- Asseguro-o de que ela não vai causar problemas. Não é, Djali?

- Mmméééééé... – foi a resposta da cabrita. Foi possível ouvir alguns risos abafados, vindos da mesa ao canto do bar.

- Muito bem, - respondeu o barman sorrindo. - ... o que é que vai ser?

- Sei que não estou no sítio certo mas, seria possível comer uma sopa? – desta vez os risos não foram abafados e ecoaram livremente pela sala.

- Lamento imenso mas a única coisa que tenho no meu estabelecimento são bebidas alcoólicas. – respondeu sinceramente o barman.

- Compreendo. Não me sabe indicar outro estabelecimento, aqui perto, que eu possa procurar?

- Por estas bandas não sei de nenhum e mesmo que soubesse, duvido muito que a estas horas consiga encontrar algo aberto.

- Obrigada na mesma. Boa noite. – disse pegando na capa – Vamos, Djali? – e dirigindo-se para a porta.

- Ei... menina... não nos queres fazer companhia? Nós pagamos-te uma bebida. – veio do grupo de homens. Esmeralda ignorou-os e prosseguiu.

- Ei... – uma mão agarrou-lhe o braço. – eu fiz-te uma pergunta.

- Peço desculpa. Era comigo? – perguntou a cigana, virando-se para o homem e fingindo surpresa.

- Sim é contigo.

- Pensei que era com a cabra... não sei porquê mas parece mesmo o teu tipo. – nesse momento ouviu-se uma estrondosa gargalhada vinda do balcão. “Era só o que me faltava.”

- Qual é a piada? – perguntou um dos homens que estavam à mesa. Todos os olhares estavam, agora, concentrados em Sirius.

- Que foi? – perguntou inocentemente. – Teve piada. – Aparentando não ser nenhum perigo, os olhares voltaram a ser postos na bela mulher.

- ... Então... queres vir sentar-te connosco?

- A sério que posso?!? – dramatizou a rapariga. - ... Então não. – disse, fazendo tenções de soltar o seu braço das mãos daquele imbecil. No entanto, o pulso firme que ele tinha nela, cerrou ainda mais.

- Eu vou dizer isto da forma mais simples possível. – disse inspirando profundamente. - ... Tira as mãos de cima de mim. – se o homem a tinha ouvido, então não a tinha entendido. – Oh, desculpa. Enganei-me, é: Tira as patas de cima de mim! – Esmeralda puxou o braço novamente e desta vez com mais força mas quando o fez o homem pareceu acordar do nada e ergueu um dos punhos. Quando este já estava prestes a colidir com a face da jovem, ouviu-se:

- Petrificus totalus!

Quando a rapariga fez a segunda tentativa de se libertar, Sirius decidiu que já tinha assistido a suficiente. Coincidência ou não, foi mesmo a tempo de o ver erguer o punho. Instintivamente, pegou na varinha e gritou:

- Petrificus totalus! – fazendo do homem uma recém estátua. Raciocinando depressa, virou-se para onde estaria o resto do grupo. Estes já empunhavam as suas varinhas. Numa situação normal, Sirius estaria em grande desvantagem, mas tendo em conta que estes feiticeiros já estavam mais que bêbedos, não deveria ser assim tão difícil. Os dois primeiros lançaram algumas maldições de pouca importância às quais Sirius escapou facilmente. A pontaria deles estava péssima. Quando se preparava para os desarmar, um freixo de luz passou-lhe uma tangente tão grande à cara que era bem provável ter um arranhão ou uma pequena queimadura. Com uma agilidade impressionante apontou a varinha ao terceiro elemento e gritou:

- Expeliarmus! – atirando bem para longe a varinha do oponente. Sem perder tempo petrificou os outros dois mesmo a tempo de ver os dois restantes apontarem-lhe as suas varinhas. Já não tinha tempo de se esconder, por isso, fez a primeira coisa que lhe veio à cabeça.


Os homens viram o desconhecido “mergulhar” para trás do balcão e ficaram a postos para quando este emergisse, o atacarem. Mas não foi um homem que saltou de trás do balcão. Foi um gigantesco cão preto. Os feiticeiros foram apanhados completamente desprevenidos e quando finalmente ganharam capacidade de resposta já era tarde de mais. O enorme cão saltou para cima do homem que estava mais perto, atirando-o ao chão. O homem restante, ao ver isto, deu meia volta e saiu do bar a correr o mais depressa que podia. O outro lutava agora com o possante canídeo que acabou por ganhar a luta e cerrou as suas mandíbulas à volta do pescoço do indefeso homem. As suas presas estavam prestes a rasgar-lhe a carne quando sentiu Peter agarrá-lo e puxá-lo de cima do feiticeiro que suplicava pela sua vida.

- Já chega Sirius! A luta acabou.


Sirius voltou à sua forma humana e olhou em redor, ignorando por completo o homem deitado no chão que soluçava e não parava de agradecer a Peter por lhe ter salvo a vida. O seu olhar atento percorreu a divisão uma, duas, três vezes e não a conseguiu encontrar. “Será que foi atingida por um dos feitiços?”

- Peter, onde está a rapariga? – perguntou da forma mais tranquila possível, como se nada se tivesse passado.

- Oh, a rapariga? Foi-se embora mesmo antes de começar a confusão. Melhor assim. Pelo menos o Ministério da Magia não vai precisar de lhe apagar a memória.

- Obrigado. – disse pegando no casaco e dirigindo-se para a porta.

- Vais-te embora? E o que é que eu faço com isto? – perguntou Peter fazendo um gesto com os braços para o grupo de feiticeiros bêbedos, caídos, atordoados, petrificados e traumatizados que estavam no seu bar.

- O Ministério da Magia já deve ter enviado alguém. – disse abrindo a porta. – Deve estar a chegar.


- Mmméééééé...

- Eu sei, Djali. Também tenho frio, mas podia ser pior. – disse Esmeralda olhando para o sujo beco onde se encontrava. Não era o aspecto mas sim o cheiro que a incomodava. No entanto, preferia aquilo a um grupo de bêbedos convencidos.

- Mmméééééé...

- Definitivamente este dia foi para esquecer. – disse com um suspiro.

- Olha que até não foi assim tão mau.

Esmeralda deu um pulo ao ouvir a voz desconhecida. Voltou-se e deu de caras com um dos homens do bar. Tinha um ombro encostado, casualmente, contra a parede e um sorriso descarado.

- Quer dizer, acho que é o sonho de qualquer mulher, ser alvo de uma briga de bar. – disse o estranho sorrindo ainda mais.

- Será que eu não fui explícita o suficiente no bar? – disse Esmeralda, adoptando uma postura defensiva.

- Ei, eu sou o tipo da gargalhada idiota, lembras-te? – disse o estranho desencostando-se da parede.

- E...? Estás à espera de algum prémio de melhor gargalhada do ano?

- Na... a minha humilde pessoa contenta-se com um obrigado. – disse pondo as mãos nos bolsos.

- ... Um obrigado porquê?

- Que tal por te ter salvo de um grupo de bêbedos?

- Eu não me lembro de te ter pedido ajuda. – disse cruzando os braços à frente do peito. Este gesto fez com que a atenção de Sirius fosse direccionada para outro sítio. – E a minha cara fica uns centímetros mais acima.

- Não tenho culpa que sejas tão atraente. – foi a ousada resposta do desconhecido, que em vez de ficar embaraçado por ter sido apanhado, se limitou a continuar a sorrir.

- Porque me seguiste? – perguntou a cigana. O seu tom era muito mais calmo. Ambos já se tinham avaliado e Esmeralda não via nenhum perigo neste homem. Tinha que reconhecer que a sua atitude arrogante e convencida a atraía bastante, mas antes morta do que ele saber isso.

- Pensei “Embora ela deva delirar com a perspectiva de dormir ao relento, vou arriscar e convidá-la para passar a noite na minha enfadonha mansão.”.

- Tu nem sabes o meu nome... e estás a convidar-me para passar a noite em tua casa?

- Suponho que se suplicar bastante, tu acabas por mo dizer.

A cigana deixou de tentar esconder o sorriso. Era impossível manter um ar desconfiado ao pé deste homem. A sua atitude descontraída e o seu bom humor contagiavam qualquer um.

- Esmeralda. – disse com um sorriso.

- Sirius Black, ao seu dispor. – respondeu, fazendo uma vénia.

- Mmméééééé...

- E esta é a Djali.

- Encantado. – disse Sirius, repetindo a vénia. –Então... as senhoras dão-me a honra de as hospedar na minha humilde casa?

- Que achas, Djali? – perguntou Esmeralda olhando para a sua fiel companheira.

- Mmméééééé...

- Parece que sim. – respondeu Esmeralda.

- Por aqui senhoras. Sigam-me.

- A propósito. – disse a cigana enquanto acompanhava Sirius. – Só para o caso de ter sido esse o teu plano, ... eu não vou para a cama contigo.

Sirius deitou-lhe um olhar provocante e um sorriso lascivo e disse:

- Não faças promessas que sabes não poder cumprir. – e piscou-lhe o olho. A cigana deu uma gargalhada e seguiu-o.


“Uau!!!” Foi o que Esmeralda pensou assim que entrou o número doze de Grimmauld Place. Tinha ficado um pouco céptica ao ver o aspecto exterior da casa e por momentos chegou mesmo a pensar que Sirius estava a gozar com ela. Mas, por dentro, a casa era majestosa em todos os sentidos possíveis da palavra.

- Deseja a suite principal, madame?

- Hu? – perguntou Esmeralda, voltando a si.

- Preciso de saber para pousar a bagagem. – disse Sirius em tom brincalhão.

- Sim, claro. – brincou ela também. – E podes ir preparar o meu banho de espuma já agora.

- É para já. – disse Sirius começando a subir as escadas.

- Sirius, eu estava a brincar. – disse ela, subindo as escadas atrás dele.

- Eu não.

- Estou a falar a sério.

- Eu também.

- Não é preciso.

- A casa é minha, quem decide isso sou eu.

- Estás a chamar-me porca?!?

Sirius parou e olhou para a jovem mulher.

- Nesse caso és a porca mais gira que já vi.

- É possível ter alguma conversa séria contigo? – perguntou ela tentando manter-se séria.

- Estou livre todas as sextas e feriados.

Esmeralda acabou por desistir de o dissuadir da ideia e seguiu-o o resto do caminho calada. Na verdade, um bom banho quente vinha mesmo a calhar.


- Estou no céu. – sussurrou Esmeralda, apoiando a cabeça na borda da banheira. Sirius tinha-se esmerado. A água estava à temperatura ideal e (ela não sabia como)ainda não tinha arrefecido nem um pouco. O seu toque favorito, contudo, eram as pétalas de rosa, vermelhas, que flutuavam à tona de água.

Tinha aproveitado aquele tempo para formar uma opinião sobre Sirius. Ou pelo menos analisar tudo o que tinha acontecido nas últimas horas. Não era hábito dela aceitar quaisquer tipos de convites então porque o fizera desta vez. Seria apenas pela irresistível atracção física que sentia por Sirius? Sem qualquer sombra de dúvidas que ele preenchia todos os seus requisitos e pelo aspecto devia ser mais do que experiente mas... ela já tinha tido a sua conta de homens. Estava farta de relações de uma noite apenas e tinha prometido a si mesma que iria aguentar um ano de celibato para poder pôr a cabeça no lugar e estar pronta para uma relação mais séria com alguém merecedor. Já estava de “jejum” há bastante tempo e ter encontrado Sirius devia ser uma prova a que estava ser submetida e que teria que superar, por muito tentadora que fosse.

Quando finalmente achou que já tinha estado tempo suficiente, secou-se e vestiu a camisa de dormir que Sirius lhe tinha deixado. Já era bastante tarde e não viu nenhuma luz acesa. “Deve estar já a dormir. Mas eu estou cheia de fome.” Foi então que ouviu um ruído. “Pode ser um intruso. O melhor é ir chamar o Sirius.... Espera aí. Desde quando é que eu preciso da ajuda de um homem? Vou tratar disto sozinha.” Olhou em redor e conseguiu vislumbrar um candelabro. Agarrou nele e começou a descer as escadas que davam para a cozinha. A meio do caminho um pensamento assustador assaltou-a. “E se não é um intruso? E se é algo muito pior? Como uma ratazana. A mansão é velha, provavelmente deve haver dezenas delas.” Á medida que se ia aproximando da cozinha, o barulho ia aumentando. A luz estava apagada. “Não é o Sirius, de certeza.” Inspirou fundo e entrou pela cozinha dentro mas o que quer que fosse (estava demasiado escuro para ver)tinha-a ouvido e já não estava lá. De repente ouviu outro ruído mesmo atrás de si. Sem pensar agarrou o candelabro com firmeza e encheu-se de coragem. O que aconteceu a seguir passou-se com a rapidez de um tornado. Uma salsicha voou pelo ar, a maionese caiu ao chão e Esmeralda fechou os olhos e bateu com todas as suas forças. Sentiu que tinha acertado em qualquer coisa e reprimiu um grito ao mesmo tempo que uma voz furiosa soltava um impropério que ressoou por toda a casa como um grito numa biblioteca.

O “intruso” tirou-lhe o candelabro das mãos com uma surpreendente facilidade e atirou-o ao chão. Então ela abriu os olhos, pensando que, efectivamente, não se tratava de nenhuma ratazana. Em apenas um segundo, o intruso tinha-a encostado ao balcão e tinha-a erguido sobre ele.

Então viu quem tinha estado a saquear a cozinha. E o que viu não a ajudou a acalmar-se nem um pouco.

Sirius Black.

Tinha a cara a escassos centímetros da sua e olhava-a de uma maneira decidida.

- O que é que pensavas fazer? – perguntou ele. – Matar-me? Tens sorte de eu te ter tirado o candelabro antes de me teres partido a cabeça!

O medo, a adrenalina, o choque... juntamente com o desejo, misturaram-se numa sensação que a fez tremer dos pés à cabeça. Inclinou a cabeça para trás até tocar no armário e esforçou-se por pensar com calma e racionalmente. Infelizmente, não conseguiu ordenar os seus pensamentos.

- O que é que achas que eu estava a fazer, Sirius? – pousou as mãos no seu peito nu e tentou afastá-lo de entre os seus joelhos. – Pregaste-me um susto de morte! Pensava que eras uma ratazana.

Tentou ignorar o calor da sua respiração, a pressão do seu corpo robusto contra o seu e o tacto do seu peito nu, sob os seus dedos. Engoliu em seco e obrigou-se a olhá-lo nos olhos.

Ele observava-a, com os olhos muito abertos.

- Trouxeste um candelabro para uma ratazana? – percorreu-a com o olhar, desde os seus ombros nus até às coxas em evidência, e ela sentiu como se ele lhe estivesse a passar os dedos pela pele.

- Uma rapariga tem que ser prudente. – murmurou, invadida por uma vaga de frustração e de confusão. – Nunca se sabe quando uma ratazana seminua vai saltar sobre ti e encurralar-te contra os armários da sua cozinha. – tentou libertar-se dele, mas o movimento só serviu para aumentar o contacto entre os seus corpos e para que a camisa de noite de seda se elevasse ainda mais, revelando as suas longas coxas.

- Não vais a lado nenhum. – disse ele, pondo termo aos seus esforços inúteis para se libertar. A sua voz era tranquila, ao contrário da sua expressão e da sua respiração ofegante.

- O que é que queres dizer? – sabia que devia estar furiosa com ele por estar a mantê-la presa contra a sua vontade, sentada no frio e incómodo balcão. Mas a raiva e a excitação tinham-se misturado ao ponto de não conseguir distinguir uma da outra.

Ele aproximou-se mais, ficando perigosamente próximo dela e esboçando um sorriso tentador.

- Como é que sei se posso confiar em ti? – perguntou num sussurro, provocando-lhe um arrepio na espinha.

Os seus lábios quase se tocavam, e Esmeralda sentia o seu corpo em chamas. Instintivamente, levantou uma mão e tocou-lhe numa cicatriz que ele tinha no queixo e que, até então, nunca tinha visto.

- Não podes. – respondeu, também num sussurro.

Estas foram as últimas palavras que conseguiu pronunciar antes dos seus lábios se encontrarem e os dois se terem unido num momento singular de completa loucura.

Esmeralda não sabia quem avançou primeiro. Tudo o que sabia era que, no momento em que os seus lábios se tocaram, o seu corpo inteiro se derreteu, como uma vela acesa. O toque, o sabor de Sirius eram incríveis... e ela deixou-se levar pela sensação. Enlaçou-lhe o pescoço com os braços e abriu a boca com um gemido, o que levou aquele beijo a um nível novo e mais perigoso.

Ele também gemeu e entrelaçou os dedos nos seus cabelos, puxando-a para si. E ainda que a mente de Esmeralda lhe gritasse que aquilo era uma loucura, o seu corpo apenas respondia àquele intenso desejo que a embriagava. De repente sentia-se viva, como se algo que tivesse estado adormecido durante muito tempo no seu interior tivesse despertado por fim.

Apertou contra ela o musculoso peito e entregou-se completamente. Sirius interrompeu o contacto dos lábios e começou a beijar-lhe o pescoço. Mas foi só quando sentiu a sua mão sobre o peito dela que foi atingido por uma vaga de desejo até então desconhecido.

E então Sirius sobressaltou-se e parou. Deu um passo atrás e passou uma mão pelo cabelo. Não a olhou nos olhos, mas ela sabia o que ele estava a pensar, porque ela pensava o mesmo: “Isto não devia ter acontecido.”.

Censurou-se a si mesma enquanto compunha a camisa de noite, cruzou as pernas e os braços, numa atitude de auto protecção. Mas mesmo com a distância que se tinha criado entre eles, podia sentir o calor aveludado dos lábios de Sirius, o desejo insaciável da sua língua, o sussurro da sua respiração contra o pescoço... Não podia acreditar! Era a idiota mais ingénua das redondezas!

Sirius deu outro passo atrás antes de a olhar. Os seus olhos tinham-se ensombrado e tinham-se tornado quase negros. “Voltei a cair.”, pensou ela, evitando olhar para o seu peito. “Voltei a cair no erro. E este sim é um grave erro. Na cozinha, com um completo estranho, pelo amor de Deus!”.

Mas, por outro lado, o objectivo do seu programa de abstinência por um ano era ter a oportunidade de voltar a planear o seu futuro, não o de viver como a Madre Teresa. Portanto, qual era o mal de se sentir atraída por Sirius Black? O facto de se derreter na sua presença não significava que tivesse que actuar em consequência.

“Amanhã será outro dia.”, pensou citando outra mulher. O dia duzentos e vinte e quatro, para ser exacta.

- Desculpa. – disse com um sorriso e um encolher de ombros. – Isto não devia ter acontecido. Acho que foi o calor do momento.

Mas ele nem sequer sorriu, limitou-se a fitá-la com um olhar ardente.

- Eu é que devia pedir desculpa. – disse, por fim. – A culpa é minha.

Apesar das suas palavras, Sirius não parecia nada arrependido, e ela teve que resistir ao impulso de se abanar. Meu Deus, nunca nenhum homem a tinha olhado assim. Decidiu que tinha de se manter afastada dele durante as próximas seis horas.

- Já chega de desculpas. – disse com um sorriso alegre. Tinha que aliviar a tensão, fosse como fosse. – Perdemos os dois um pouco a cabeça, foi só isso.

- Só um pouco? – perguntou ele, rindo sem humor.

Ela voltou a encolher os ombros, mas sentiu que o seu coração se acelerava outra vez.
- Acho que te vou deixar a sós com a salsicha, para que possas comer em paz. – disse, e começou a descer de cima do balcão.

Ele olhou para a sandes que tinha estado a preparar.

- Desculpa, eu... assustei-te. – voltou a olhá-la nos olhos, fazendo-a estremecer. – Se me prometeres não andar por aí, eu prometo controlar os meus apetites nocturnos.

Esmeralda quis dizer-lhe que não, que se o seu apetite nocturno era por ela, podia avançar. Mas, em vez disso, simplesmente lhe desejou as boas noites e deixou a cozinha, sentindo o seu olhar penetrante sobre ela.

Enquanto subia as escadas, descontente, desculpava-se com o cansaço e justificava-se pensando que tinha sido apenas um acesso de desejo. Mas ia ter que se esforçar muito no futuro para manter o pensamento longe dele.

Ao enfiar-se nos lençóis, pensou nos contos de fadas que lhe contavam para que adormecesse. E ao estender a mão para apagar a luz sobre a mesa de cabeceira, pediu às fadas que a fizessem sonhar com qualquer coisa, menos com Sirius.